sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Estreitando laços

Nessa sexta-feira, 25 de novembro de 2010, estivemos na Escola Estadual Messias Gonçalves Teixeira, localizada no Bairro Padre Anchieta em Campinas. Já tínhamos tido contato com a escola, mas dessa vez fomos bater um papo com o Prof. Moisés (Geografia) e a Profa. Lindalva (Ciências) e conhecer um pouco dos projetos que eles já vem desenvolvendo na escola. Participaram desse encontro: Luiza (Coordenadora Pedagógica do Projeto), Sueli (Educador Ambiental) e Cassiana (Educadora Ambiental).



O Prof. começou nos contando que desenvolve esse projeto em síntese, no córrego Boa Vista, na região da Fazendo Boa Vista, há 10 anos, começou inicialmente com 5ª série, depois a 7ª série e posteriormente com ensino médio, trabalhando nos últimos anos somente com as 3ªs séries. Ele disse que percebeu que os alunos se surpreendem ao descobrir o que existe em termos de meio ambiente, seus elementos, o que seria a vegetação, a nascente. Sueli pergunta sobre a situação desde o começo até agora, se continua a degradação, o Prof. diz que degradação parou, por conta de uma proteção legal, a área está cercada, porque na área existe um depósito muito grande de dejetos e resto de construções. Existe uma despreocupação muito grande com o tratamento da água, pelo bairro ser muito grande não há tratamento de esgoto. Continua dizendo que seria interessante fazer um levantamento de onde vai o esgoto, que deságua no córrego Boa Vista e posteriormente no Quilombo. O córrego na parte baixa do bairro não tem tratamento, e na parte alta, durante o percurso, a questão é o quanto ele já poluiu, o quanto degradou a vegetação de várzea etc. Ele continua dizendo que leva as 5ª series, com um projeto da SANASA, num estudo de tratamento do rio Capivari, na Anhanguera, na captação e tratamento de água. Esse ano eles levaram as 7ª series. Os alunos obtiveram também o conhecimento de vegetação de várzea, porcentagem de captação de água do rio Capivari, entre outras informações.





O Prof. nos mostrou um trabalho sobre águas que será exposto na feira de ciência amanhã (26/22/10), e pediu para os alunos (7ª serie) trazerem conta de água e fazerem cálculos per capita do consumo por família e eles montaram gráficos e analisaram os gastos em suas casas. Fizeram um analise e uma comparação sobre o que se propõe de gasto diário mundialmente e o que eles consomem. Depois eles buscaram textos sobre o uso racional e consciente da água, do recurso hídrico que é renovável e com a poluição pode não ser mais renovável. Dizem que a água é recurso renovável mas com risco. O questionamento dos alunos é de que se os oceanos são tão grandes, porque se fala tanto no esgotamento das águas? Daí entra a discussão sobre a reflexão do mundo geopolítico, do capitalismo, de todas as questões que envolvem a tema da água. Porque é fácil abrir a torneira, porque não pagamos o custo ambiental da água, mas sim o econômico, o Prof. diz ainda que o maior custo não é o econômico, mas o ambiental. Ele procura trabalhar essas questões, para que o aluno possa ter a possibilidade de questionar, discutir, refletir e ele mesmo propor questões sobre a sustentabilidade e que caminhos se podem seguir.
Todo esse trabalho é desenvolvido junto com a Profa. Lindalva, que nos disse que logo que entrou na escola, em 2000, no ano seguinte começou a trabalhar com projetos. Disse que ela e o Prof. Moisés começaram a trabalhar juntos, pois trabalham sempre com as mesmas salas. Disse que a secretaria de educação sempre tinha projetos direcionados e acabavam trabalhando juntos. Então utilizaram as salas com alunos-problemas, começaram a trabalhar sobre o que acontecia na comunidade, sobre lixo entre outras coisas, visitaram a Mata Santa Genebra e o resultado foi muito positivo. Todo ano faziam trabalho sobre água, começando visitar a estação de tratamento, depois os alunos construíram maquete do que eles viam, sempre surpreendendo a todos. A Profa. enfatiza que trabalhar com projeto é a parte de contextualização, utilizar o aluno no dia a dia dele, para que ele entender e vivenciar, afirma que o professor tem que ajudar o aluno a contextualizar o conteúdo. Ela trabalha fazendo pesquisa, faz especialização na USP, mas sempre trabalhou com pesquisa, dessa maneira.
Ela nos contou que trabalharam num projeto de dois anos junto com a COMGÁS, passaram na sala de aula buscando os alunos interessados e eles descobriam suas habilidades, formando grupos de trabalho, uns trabalharam com meio ambiente, lixo, tinham de conhecer, pesquisar, se organizar, os professores só deram suporte. A intenção era que eles continuassem com o projeto, mas infelizmente eles pararam, que a capilaridade continuasse em sua vida. Ensinaram a montar um projeto, objetivo, metas, entre outras coisas. Lindalva também relatou da dificuldade que encontra em achar professores que trabalham projetos,  pois isso realmente demanda muito mais trabalho. Mas no entanto, o retorno que os alunos dão é tão admirável, que essa é a maneira que ela acredita que deve continuar e sempre trabalhou.
No decorrer da conversa, Evandro, coordenador, diz que tem intenção de fazer um projeto de cinema, produzido pelos próprios alunos, com seus celulares, sem grandes tecnológicas, produzindo um festival de curtas, de documentários, abrangendo um leque muito amplo de opções de temas. Evandro diz que é preciso fazer ações, porque se não a educação está fadada ao fracasso, se não houverem ações. Diz sobre seu descontentamento, e que a educação perdeu em algum momento o brio, que há uma insatisfação, um desanimo muito grande e isso é um fundo de poço, mas que essa escola ainda pode ter pequenas ações para sobreviver e recuperar a sedução que tinha, principalmente com a comunidade. Eles disse que contextualizar o individuo como agente da sua comunidade, da sua cidade e nos mostrou uma exposição de fotos que fez com os alunos numa visita de conscientização e preservação do patrimônio histórico-cultural de Campinas. Ele é muito empolgado e diz que sempre que um professor diz sobre projetos, ele apóia prontamente e incentiva enquanto coordenador.


Obviamente, o trabalho realizado por alguns professores dessa escola, nos faz pensar em quantos outros projetos existem e que não se sabem, não se conversam, mas que podem ganhar destaque e força. Num primeiro momento, nossas boas intenções são em fortalecer esse tipo de projeto, com a ferramenta da Educomunicação, da qual estamos buscando nos aprimorar. O que nos motiva, são ações e pessoas que mesmo com as dificuldades constantes, estão lutando para fazer seu trabalho melhor, contribuindo para a mudança no mundo e não ficam paradas, reclamando, sentadas no sofá: “com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar... Porque longe das cercas embandeiradas, que separam quintais, no cume calmo, do meu olho que vê...”, eles agem e é isso que queremos, agir! Até a próxima.



Um comentário: